O torcedor do Bahia está atônito com o início da temporada 2021 do time, e não somente com o futebol que a equipe apresenta em campo, até porque não há nada de diferente do que foi visto no ano passado. A preocupação gira em torno das ações da Diretoria de Futebol do clube, no que que diz respeito a montagem do elenco, visando as competições mais importantes do time ao longo do ano - Copa do Brasil, Sul-Americana e Campeonato Brasileiro.
E o torcedor tem razão: a equipe lutou até as últimas rodadas para não ser rabaixado. A temporada de 2020 deixou marcas até então incuráveis na massa azul, vermelha e branca: as eliminações nas Copas do Brasil e Sul-Americana, o título perdido para o Ceará, a conquista do famoso Tricampeonato Baiano e o quase-descenso à Série B. Ou seja, a diretoria conquistou mais ônus do que bônus ano passado.
Para 2021, a diretoria do Bahia prometeu uma repaginada, tanto interna, quanto no elenco. Para começar, trouxe Lucas Drubscky do Sport e Júnior Chávare do Atlético Mineiro. A ideia, segundo o presidente Guilherme Bellintani, é compor um departamento com pessoas para descentralizar decisões e não sobrecarregar um único profissional, como aconteceu com Diego Cerri, ex-executivo do clube. Junto com eles desembarcaram em Dias D'Ávila: os volante Pablo (Vila Nova), Jonas (sem clube) e Matheus Galdezanni (Coritiba), e os zagueiros Gérman Conte (Benfica) e Luiz Otávio* (Chapecoense).
A projeção de receita da diretoria em 2021 é de R$ 171 milhões. Conforme balanço divulgado, o dirigente projeta que a equipe alcance as semifinais da Copa do Nordeste e a terceira fase da Copa do Brasil. Na Sul-Americana, a projeção é que a equipe chegue até as oitavas de final, o que daria um alívio aos cofres do clube, quando o Bahia embolsará US$ 500 mil (R$ 2,7 milhões) a mais.
Se quiser receber engordar ainda mais os cofres do clube, no certame internacional, basta repetir os desempenhos de 2018 e 2020, quando chegou até as quartas de final da competição, garantindo mais US$ 600 mil (R$ 3,3 milhões). Além disso, há também a negociação envolvendo atletas. A diretoria prevê arrecadar R$ 25 milhões com negociações de atletas (Gregore foi vendido ao Inter Miami-EUA por R$ 16,2 na cotação da época, por 65% dos direitos econômicos do jogador; Thiago Andrade está em processo de negociação para o New York City, também dos EUA).
O Bahia de 2021 é o mesmo de 2020. A defesa, que tomou 58 gols em 38 jogos no Campeonato Brasileiro se manteve: Lucas Fonseca e Juninho seguem formando a dupla de zaga titular. O Bahia não renovou com Ernando, mas manteve Anderson Martins. Já registrado no BIB da CBF, Conti tem figurado no banco de reservas, enquanto Luiz Otávio, apesar de treinar com o grupo, ainda não foi anunciado pelo clube. O goleiro Douglas, com atuações questionáveis desde 2020, segue titular, chova ou faça sol, e tem falhado corriqueiramente - isso quando não está no departamento médico. Para a posição, o Bahia trouxe Dênis Júnior, de 22 anos, do São Paulo. O critério? Vai saber...
A diretoria levou um balde de água fria do Ceará, que conseguiu contratar o zagueiro Messias, do América Mineiro. Bahia, América e Messias tinham um acordo costurado, mas o Ceará entrou forte na disputa pelo atleta, que venceu a concorrência: o Vovô comprou 50% dos direitos do atleta, com salário em torno de R$ 200 mil mensais, até 2023. O Bahia não cobriu a oferta por acreditar que não entraria em leilão pelo jogador. Logo após as tratativas frustradas, a direção declarou estar satisfeita com Conti e Luiz Otávio, e garantiu avaliar atletas da posição no Time de Transição.
Bellintani já havia afirmado que o clube não faria contratações badaladas a exemplo da última temporada, quando trouxe Clayson, Juninho, Wanderson, Rossi e Rodriguinho. "O que vamos buscar é um elenco om perfil mais intenso, mais jovem, e menos estruturado em jogadores tarimbados ou que estejam com preço acima do que podemos pagar", disse o presidente.
Bellintani entendeu, aceitou e assumiu que errou ao manter Roger Machado em 2020 após fracasso no 2º turno do Brasileirão de 2019, quando um time sem repertório era visto em campo. A insistência, culminou na perda do título do Nordestão para o Ceará. Em 2021, pelo menos na prática, não aprendeu. Avalio que o mandatário repete o mesmo erro ao manter Cláudio Prates no comando do Time de Transição. Apresentando um futebol muito ruim, em sete jogos oficiais disputados na temporada (um pelo Nordestão e seis pelo Baianão), a equipe, que foi reforçada e deve ter folha maior que outros clubes que disputam o Baianão, só conquistou duas vitórias (venceu o Salgueiro e Doce Mel), perdeu para Juazeirense e UNIRB, e empatou com Vitória, Flu de Feira e Vitória da Conquista. São seis pontos, em seis jogos, correndo o risco de nem passar da primeira fase do certame estadual. Regularidade...
Nas redes sociais, os torcedores do Bahia têm cobrado melhor critério da diretoria na montagem do grupo para 2021. A crítica, claro, pesa em torno da não vinda de Messias. Apesar das reclamações, analiso o processo de forma racional: investir alto agora ou se arrepender depois? Sabe-se que toda contratação é uma aposta. Contrata, mas se vai dar certo ou não são outros quinhentos. Fato é que, a letargia e falta de ambição da diretoria em não só reformular, mas também fortalecer o elenco que fracassou em tudo o que disputou em 2020, faz com que a torcida fique com pulga atrás da orelha.
A CBF definiu um limite de mudanças de técnicos para a competição deste ano. Com a nova determinação da entidade, cada time só poderá ter dois treinadores, enquanto cada profissional só poderá treinar apenas duas equipes. Bellintani, porém, votou contra essa medida. Indo contra a nova regra, por ser restritiva, entende-se que Bellintani pensa em fazer troca de treinador (colocando o trabalho de Dado em evidência?) na temporada ou o voto foi apenas uma forma de se opor ao novo modelo implantado pela entidade? Com a palavra o presidente...
As repostas, em campo, têm sido iguais as do ano passado: a equipe oscila em momentos cruciais das competições e apesar de integrar o G4 do Nordestão, prioridade no primeiro semestre, o time em campo não passa confiança. E mesmo diante destes cenários, com a instabilidade entranhada no DNA de um elenco fracassado da temporada passada, talvez Bellintani esteja enxergando as situações - do elenco e do desempenho das equipes nas competições - com naturalidade.